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Myrtha Carvalho e Viviane Bona refletem sobre o Dia do Professor e a prática docente
Duas professoras, em momentos distintos da vida profissional, dão seus testemunhos da atividade docente
Por Renata Reynaldo
Duas professoras, dois momentos distintos e uma mesma questão: há motivos para se comemorar o Dia do Professor? Myrtha Magalhães de Carvalho, 86 anos, aposentada desde 2001 do curso de Letras do Centro de Artes e Educação (CAC), e Viviane Bona, 37, professora do Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação (PPGEDU-CE), ambas da UFPE. Cada qual com seus desafios, estratégias e percepções em sala de aula, ambas com a resposta na mesma sintonia. “Professor é herói, tudo o que a gente tem é porque teve o professor que nos ensinou”, diz a primeira; ao que a outra ecoa: “Pois participamos do processo formativo de cada um e de cada uma, podemos utilizar de meios para mudar e transformar vidas. Muitas vidas".
Também em comum, as professoras fazem ressalvas ao tratamento que a profissão vem recebendo no atual momento do país, mas – parece que é da atividade que elas escolheram – a motivação e esperança se fazem presentes nos testemunhos das duas. Viviane entende que, apesar do atual contexto, hoje é dia de reforçar a necessidade de valorização da profissão, “de reafirmar nossas lutas e nossas marcas históricas”. Para Myrtha, que começou a ensinar aos 17 anos e antes de atuar na graduação lecionou no Colégio de Aplicação da UFPE, professor deveria ser carregado no altar, ser respeitado, comemorado e bem pago. “Se eu pudesse, dava uma festa”, completa.
DESAFIOS | Com Viviane tendo ingressado na atividade em 2000, na educação infantil, e Myrtha deixado o ensino no ano seguinte, ao se aposentar da UFPE, é de se destacar a semelhança das impressões de ambas quando falam nos desafios da sala de aula. A professora que começou na Federal de Pernambuco ainda em 1970 aponta que “a quantidade de informação que nossos alunos têm por conta da própria modernidade e de tudo que vem acontecendo e se criando faz com que eles superficializem todos os conhecimentos e tenham muita dificuldade em aceitar o trabalho mais minucioso, mais cauteloso para aprendizagem”. E para Viviane, “a mudança mais perceptível foi justamente que os estudantes possuem, cada vez mais, amplo acesso à informação; eles já vêm com sua bagagem e a gente precisa mediar e auxiliar na construção de um novo conhecimento”.
A título de alternativa para esse desafio, as duas docentes citam Paulo Freire, com Viviane defendendo os saberes que são elucidados pelo Patrono da Educação brasileira “como necessários a uma prática educativa que vai compor uma pedagogia com vistas à autonomia das pessoas, emancipação e sua libertação”. A professora – que coordena o Mestrado Profissional em Educação Básica (MPEB) e tem como foco de pesquisa a educação infantil, processos de ensino-aprendizagem, processos formativos em espaços não escolares, infância contemporânea e representações sociais – parte da constatação de que é necessário se compreender o ensino e aprendizagem como uma via de mão dupla, troca, mediação. E, como conselho, diz que “os novos profissionais devem priorizar a empatia, sensibilidade, criatividade, curiosidade, pesquisa e investimento em formação”.
ATO POLÍTICO | Para Myrtha, o aluno atual, que tem conhecimento de coisas que o próprio professor não tem “e, de um modo geral, a sociedade está aceitando isso como um valor”, se acha mais sabedor do que o professor. “E aí, onde estamos? O aluno sabe mais do que o professor? Claro que não! O aluno sabe coisas que o professor não sabe; então, se a gente pensar bem, cai no nosso Paulo Freire, quando ele diz que a atividade do professor é um eterno ensinar e aprender. Quando é que para o meu ensino e começa a minha aprendizagem como professora? Se eu tenho clareza disso, é possível que eu supere esses desafios”, ensina.
Ainda na verve paulofreireana, Myrtha é enfática ao apregoar que o professor não pode esquecer que o ensino e aprendizagem são atos políticos. E completa: “Ele [o professor] pode pensar que é neutro, mas em sala de aula ele não é; ele tem que tomar decisões. Pode até ser que a decisão, no momento, não seja a mais adequada. Mas que fique muito claro e que ele tenha certeza de que ele está fazendo um trabalho com algum objetivo”. Para a decana, é importante que esse objetivo fique explícito, também, para o aluno; pois “dar uma aula sem os alunos saberem pra que aquilo é o mesmo que você lecionar tiro ao alvo no escuro".
Confira a reportagem do programa Notícias do Campus sobre o Dia do Professor