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A UFPE e Ariano
Por Anísio Brasileiro, reitor da UFPE
Há poucos meses, quando decidimos editar o catálogo internacional da UFPE, fomos ouvir Ariano Suassuna. O nosso professor emérito projetava a universidade para o Brasil e para o mundo. Suassuna lembrou como a UFPE fora importante para ele: “A Universidade começou a desempenhar um papel na minha vida já no curso de Direito, onde conheci um grupo de artistas do qual Hermilo Borba Filho fazia parte e passei a escrever peças por incentivo dele.
Também lá montamos o Teatro do Estudante de Pernambuco, porque acreditávamos em levar o teatro ao povo, e não esperar que o povo fosse ao teatro. Como professor, lecionei Estética, História da Cultura, Literatura Brasileira e Filosofia. Posteriormente, assumi o cargo de diretor do Departamento de Extensão Cultural da Universidade e, apoiado pela Reitoria, lancei o Movimento Armorial. Para mim, a participação da UFPE no lançamento do Armorial foi decisiva. Eu nunca saí do Brasil, toda a minha formação foi feita dentro da Universidade. Minha cultura foi adquirida na UFPE, como estudante e como professor.”
A instituição, por sua vez, nunca deixou de reconhecer a grande dimensão do seu trabalho – que foi muito além da sua dedicação aos departamentos de História e de Teoria da Arte & Expressão Artística, onde ensinou por 31 anos, de 1957 a 1989. Por isso, já em 1995, a UFPE concedeu a Suassuna o título de Professor Emérito. Também foi ele o grande homenageado nas comemorações do aniversário de 60 anos de criação da Universidade do Recife, antecessora da UFPE, em 2006. Nessa ocasião, uma série de eventos celebrou os 80 anos do escritor, completados em junho de 2007. A UFPE implantou, também em 2007, o Núcleo Ariano Suassuna de Estudos Brasileiros.
Nas suas aulas-espetáculo, o modo como ensinava permitia que refletíssemos sobre a cultura brasileira. Ele se posicionava do ponto de vista do povo, a partir das suas histórias e expressões, procurando compreendê-las e interpretá-las, contribuindo de forma decisiva para a constituição da identidade do povo brasileiro. Aprendíamos como ele articulava os saberes populares e suas conexões com o conhecimento erudito, que também é um dos grandes desafios de uma universidade contemporânea como a UFPE. Com Ariano, a questão da identidade cultural tornou-se um conceito vivo, no qual as relações sociais e os patrimônios simbólicos dos brasileiros ganhavam novas cores. Ao aproximar a discussão teórica da cultura dos aspectos da vida concreta, Suassuna valorizava a criatividade do povo brasileiro e a inseria no mundo globalizado.
Ariano demonstrou seu vínculo com a Universidade, sinalizando a importância de estarmos atentos aos verdadeiros desafios que o Brasil enfrenta. Ao nos despedirmos do nosso querido professor emérito, temos a exata noção da sua contribuição ao Brasil. Agora seremos guardiões da memória, do talento e da dedicação de Ariano Suassuna à UFPE. Saberemos cultivar as belas sementes que ele plantou.
Artigo publicado no Jornal do Commercio em 9 de setembro de 2014