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Professores e estudantes da UFPE fazem descobertas no Sítio Arqueológico Engenho do Meio
A equipe do Notícias do Campus conheceu a área onde são feitas as escavações, localizada no Campus Recife da Universidade
Há um sítio arqueológico em pleno campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) no Recife, onde professores e estudantes do Departamento de Arqueologia têm encontrado, nos últimos anos, vestígios de construções e itens diversos que ajudam a compreender a história da ocupação humana nessa parte da cidade. O trabalho desenvolvido no local está relacionado ao projeto “Arqueologia Histórica no Engenho do Meio: Pesquisa, Ensino e Extensão Comunitária no Campus da UFPE”, que é coordenado pelo professor Scott J. Allen e a arqueóloga Carolina Sá. Outros docentes e estudantes da graduação e pós-graduação participam do projeto.
O Engenho do Meio foi construído no início do século XVII, época em que havia outros engenhos de açúcar na área então conhecida como Várzea do Capibaribe. No século XIX, a Usina Meio da Várzea foi instalada no local e, com o passar do tempo, a própria Zona Oeste do Recife passou por várias transformações.
“Acho que quase ninguém que entra aqui na Federal imagina que tem um sítio aqui dentro”, estima a estudante de Arqueologia Regina Sousa, que é uma das monitoras das escavações.
Para quem faz parte desse grupo citado por Regina, segue uma indicação mais precisa da localização desse espaço de importância histórica: o Sítio Arqueológico Engenho do Meio fica na área entre a parte de trás do Complexo de Convenções, Eventos e Entretenimento (CCEE) da UFPE, o Arruado do Engenho do Meio e o Centro de Informática (CIn). No local, foi instalado um monumento indicando que ali existiu a residência do senhor de engenho João Fernandes Vieira, um dos líderes da Insurreição Pernambucana (1645-1654).
“A área que estamos escavando é a casa grande do Engenho do Meio. Temos séculos de ocupação nesse sítio e a casa grande testemunha todo esse tempo. Temos materiais arqueológicos recentes, escova de dentes, esse tipo de coisa, até as faianças mais antigas [faiança é um tipo de cerâmica branca, mais porosa que a porcelana]. Muita cerâmica, louças, faianças finas, metais, ferraduras, tachas, pregos, material construtivo… Tudo o que podemos imaginar que fazia parte ou da arquitetura ou do cotidiano dos séculos 17, 18, 19 e 20”, afirma o professor Scott.
Arqueólogos da UFPE fizeram escavações no local na década de 1990, mas foi em 2018 que o Sítio Arqueológico Engenho do Meio começou a fazer parte das atividades didáticas do Departamento de Arqueologia de maneira mais constante, como uma escola de campo.
O lugar está no foco do ensino de duas disciplinas obrigatórias, sendo uma da Graduação (Métodos e Técnicas de Pesquisa Arqueológica III: Arqueologia Histórica) e outra da Pós-Graduação (Técnicas de Pesquisa Arqueológica I). Além disso, as escavações no local criam oportunidades para a realização de atividades de outras disciplinas para graduandos e pós-graduandos (tais como Topografia Aplicada à Arqueologia, Educação Patrimonial e Laboratório, da Graduação, ou Sistemas de Informações Geográficas Aplicados à Arqueologia, da Pós-Graduação, entre outras).
DA SALA DE AULA PARA O CAMPO – O professor Scott comenta que é “uma sorte muito grande ter um sítio arqueológico dentro do campus” para realizar atividades de ensino, pesquisa e extensão. Ele acrescenta que as aulas são pensadas buscando proporcionar aos estudantes a experiência de conhecer todas as etapas de um trabalho de campo.
Isso começa na montagem da malha, quando barbantes são utilizados para dividir o terreno em quadrículas, como um grande tabuleiro. Esse procedimento contribui para o processo de registrar o que foi encontrado e onde. Com um equipamento eletrônico chamado estação total, são medidos ângulos e distâncias.
Quando a reportagem esteve no sítio arqueológico, também havia espaço para que os estudantes peneirassem a terra em busca de pequenos fragmentos. Outra parte do grupo limpava e registrava informações sobre o que já havia sido encontrado em uma mesa próxima, junto com a arqueóloga Carolina Sá Espínola.
“É minha primeira prática com escavação e o professor Scott tem instruído bastante a gente, Carol também tem dado muita força. Cada região do sítio deve ser escavada de uma forma. Não tem como a gente aprender isso só com a teoria, tem que ser com a prática”, pontua a estudante Edjane Alencar.
O também estudante de graduação Felipe Wagner continua: “A gente já tinha feito escavação em sítio pré-histórico, lá no município de Igarassu, e as técnicas são completamente diferentes. Então, a experiência está sendo bem valiosa”.
“Está sendo um aprendizado incrível. Eu também tento me encaixar um pouco na topografia. Tem os métodos específicos do professor Scott para esta investigação. É até diferente um pouco do que fiz em outra escavação, com outros professores, porque cada um vai desenvolvendo o seu método”, explica a estudante de Graduação Isabela Maia.
Também faziam parte do grupo estudantes que já haviam concluído a disciplina obrigatória do curso, como a monitora Regina Sousa. “Eu gosto muito de campo e é diferente a perspectiva de monitoria e de quem está escavando como aluno, então eu quis ver esse outro lado”, diz.
Esse também era o caso do mestrando Igor Gadelha: “Nesse semestre eu vim como voluntário, gostaria de aprender um pouco mais. Minha pesquisa também é em Arqueologia Histórica, aqui é um sítio histórico, tem sido uma experiência bem bacana. Hoje, o professor chamou a gente para escavar e resgatar esse vasilhame”.
A remoção orientada pelo professor Scott se deu a poucos metros da região demarcada por quadrículas. “O Sítio não se restringe apenas à casa grande, é toda essa área. Então a ideia de mapear o subsolo [com prospecção geofísica] e, dependendo dos resultados, nós vamos estendendo as escavações, pesquisando outras áreas para obter mais informações sobre o Sítio, para entender essa paisagem do Engenho do Meio. Dessa forma, o projeto em si não tem prazo para terminar”, explica o docente.
“Tem alunos muito interessados em continuar escavando. Nós temos um contexto, sabemos que vai sair muito material arqueológico do cotidiano. Entendemos muito bem essa estratigrafia, que são aquelas camadas do solo. Aprendemos cada dia mais e tem muito material arqueológico para encontrar”, avalia o professor Scott.
DO SÍTIO PARA O LABORATÓRIO – Além da possibilidade de que novos itens sejam encontrados com a continuidade das escavações, existem outros desdobramentos do trabalho de campo. Isso porque o material descoberto pelo grupo é levado para o Laboratório de Arqueologia Histórica da UFPE, que fica a poucos metros do local das escavações.
“Dentro do laboratório, temos estagiários, bolsistas, que higienizam os artefatos para que sejam expostos ou estudados, para pesquisas do TCC, mestrado e até pós-doutorado. Então, são todas etapas que podemos realizar de uma forma eficiente dentro da logística que nós temos”, ressalta o professor Scott.
“Nós temos o Laboratório de Educação Patrimonial que faz atividades, inclusive exposições. Temos uma pós-doutoranda [Cecília Barthel] que está sob minha supervisão vendo um projeto que seria basicamente a musealização do Engenho do Meio. Nós estamos focados nessa questão que é como podemos apresentar o sítio arqueológico para a comunidade, mas mantendo uma pesquisa arqueológica em andamento. Estamos muito animados com essa possibilidade da musealização do sítio”, conclui o professor Scott.